quarta-feira, 27 de maio de 2009

Encumeada - Relvinhas – Fajã Escura – Levada do Curral - Tanque - 24-04-2009


Domingo dia 24 de Maio de 2009. Dia algo cinzento.
Começou com mais um passeio com os Amigos da Natureza. Terceiro passeio com esta gente sempre bem-disposta, e sempre muito dispersa.
Mais uma vez um autocarro completo, com algumas pessoas de pé rumo ao inicio do nosso passeio. Rumo á Encumeada.
Como sempre, depois das sete e quarenta e cinco, rumamos á Ribeira Brava para o café matinal. O dia e eu parecíamos algo melancólicos. A vinda no dia anterior do continente, com uma aterragem um pouco ás avessas com o vento no nosso aeroporto, deixa qualquer um e eu principalmente num estado de letargia que é difícil de explicar. É como se escapássemos por um triz á morte certa e depois ficássemos naquela, tipo: “ já não sou deste mundo”.
Enfim, fobias que não são para aqui chamadas, porque o que nos esperava era um percurso bem terra a terra por uma das nossas mais bonitas veredas.
Depois do café lá seguimos no “compasso do Scania” já “cansado”, Encumeada fora.
Estranha a sensação cada vez que subo esta inclinação da nossa magnifica terra. Trazem-me sempre velhas recordações de infância que irremediavelmente voltam sempre! São incontornáveis estes sentimentos. A lentidão do autocarro na subida proporciona isso mesmo, excepto quando somos abordados por um qualquer camarada caminheiro que nos alerta para uma qualquer piada da “ordem”. Desta vez não faltavam comentários á possível chuva que iríamos apanhar na certa. Inclusive a dada altura houve mesmo quem confirmasse que chovia na Encumeada através duma chamada de telemóvel.
Nada, mas nada demove esta gente! Ou antes, o bom tempo acompanha de facto os Amigos da Natureza! Chegados a Boca da Encumeada a chuva parou! Um ligeiro nevoeiro, agora mais alto, era só o único atrapalho para que pudéssemos desfrutar das vistas sobre a paisagem.
Iniciamos caminho rumo ao Curral Jangão. Neste sítio recôndito verificamos que os palheiros de apoio á agricultura demonstram o abandono a que essa mesma agricultura foi votada. É algo desolador ver o estado de alguns destes palheiros bem como os poios circundantes.
O tempo melhorava substancialmente e já era possível ver o arco-íris sobre a zona onde fica a Residencial Encumeada. As vistas sobre a mesma e sobre toda essa zona cada vez mais magnificas. Ao longe e ao fundo a levada das Rabaças (em agenda para um dos próximos passeios).
Começamos a subir pela Fenda do Ferreiro. Uma subida algo íngreme, numa vereda ora difícil em mau estado ora em tão perfeito estado mas se calhar não executada da melhor forma. Penso mesmo que o percurso inverso em dias invernosos será deveras muito difícil de percorrer. Enfim, divagações minhas.




Nesta subida, as giestas em flor dão às encostas um toque mágico, que mais parece uma tela de um pintor inspirado! Se nunca viu este espectáculo, aproveite esta altura do ano. Vai ver que vale a pena. Fiquei estarrecido! Meu irmão e camarada caminheiro mais novo, “aproveitou-se” das minhas paragens demoradas para as necessárias fotografias e escapou-se lá mais para a frente. Agora a minha companhia seria o meu camarada J. até às Relvinhas e posteriormente até ao Curral.
Que vista esta das Relvinhas meus amigos! Este sítio é com certeza um dos locais mágicos a juntar a tantos outros por aí escondidos! O Curral lá em baixo aos nossos pés! O Pico Grande ali mesmo á nossa beira á espera de ser escalado. Meus amigos, a escolha é mesmo muito difícil!
Deixemos a escalada ao Pico Grande para outra ocasião. É hora de seguir o grupo até ao Curral das Freiras. O dia continuava bom para uma caminhada. A vereda de acesso á Fajã Escura sob os famosos castanheiros do Curral, faz-se debaixo de uma alegria imensa. Nem se sente a descida. A boa disposição com umas anedotas pelo meio torna esta tarefa um pouco mais suave.
Por fim a s cerejeiras carregadas de cerejas fazem o regalo de quem vinha cheio de sede! Uma tentação para os viandantes, diga-se de passagem!
Mas a sede tira-se verdadeiramente com uma “Coral” no primeiro bar que encontramos na Fajã Escura. Meu irmão já lá esperava pacientemente.



Havia de facto muito para esperar. Faltava muito para as duas horas e o autocarro só sairia dali pela quinze e trinta. Nisto uma ideia “luminosa” do meu irmão: em vez de esperar pacientemente pelo autocarro, iríamos seguir pela Levada do Curral e Castelejo até ao sítio do Tanque em Santo António. Fazia tempo que pretendíamos fazer esta levada. Eis o momento certo para a percorrermos!
Depois de encontrarmos a vereda de encontro á Levada, seguimos nesta. Que vistas sobre o Curral! Que abismos arrepiantes!
A levada que começa bem cuidada, cedo se mostra algo desprezada. O peso do tempo faz-se sentir por este trilho outrora muito importante para as gentes do Curral. A levada em certos pontos está a ceder e num determinado ponto está mesmo completamente suspensa por uma arvore que teima em cravar as suas raízes nas rochas segurando teimosamente este canal.
Foi um importante elo no passado entre esta freguesia de Câmara de Lobos e o Funchal. Por ela passaram gerações em busca das suas vidas fora daquele isolado núcleo.
Lembro-me em criança que numa fazenda junto á casa de meus pais, haviam dois curraleiros que trabalhavam nessa mesma fazenda durante a semana e era vê-los á sexta feira á tarde subir de encontro a esta mesma levada de volta á sua terra para o merecido descanso de fim de semana. Tempos difíceis esses que faziam um habitante do Curral, hoje a uns simples vinte minutos de São Martinho, ter de ficar uma semana longe da família para ganhar o pão de cada dia. Outros tempos sem dúvida!



Passamos ainda pelo sítio da Fajã do Poio, aldeia fantasma pertencente á Freguesia de Santo António do Funchal. Tempo para apreciar este núcleo abandonado há cerca de 30 anos, onde chegaram a viver cerca de trinta pessoas. As casas envoltas nos rolos de silvado dão um ar nostálgico ao local, mas compreendem-se as razões do abandono. Os terrenos outrora cultivados estão hoje também completamente abandonados nesta margem direita da Ribeira da Lapa, afluente da Ribeira dos Socorridos.

Chegamos ao sítio do Tanque em Santo António eram quatro horas e vinte e cinco minutos. Cansados mas contentes! Foram cerca de sete horas a andar!
Obrigado “brother” pela sugestão. Sem ela esta caminhada seria de certeza mais pobre tanto em emoção como em duração!
Um abraço e até á próxima caminhada na minha terra, num qualquer caminho, num qualquer lugar!

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