terça-feira, 27 de outubro de 2009

Baía d`Abra – Casa do Sardinha – Baía d`Abra (18-08-2009)


No penúltimo dia de férias, o resto do “pessoal” queria passa-lo na praia. Eu nem por isso. Havia uns dias que a “malta” queria experimentar a nova praia de Machico. Então, comecei a planear um plano “maquiavélico”. Deixa-los na praia e partir de encontro ao sofrimento dos “horrores do sol” numa ida desde a Baia de Abra até á “Casa do Sardinha” no extremo leste da Ponta de São Lourenço.
Foi o que fiz. Saímos de manhã, isto é, já muito tarde, para a zona Leste da Ilha. Em direcção a Machico. O dia dava sinais de vir a ser abrasador. A manhã contrariamente ao habitual não continha a habitual brisa fresca. Mau sinal.

Cheguei á zona da Baia d`Abra eram dez horas e vinte minutos, depois de ter deixado o resto do pessoal na novel praia de Machico. Ficaram lá todos contentes. Eu também. Iria explorar a ponta de São Lourenço a meu belo prazer. Completamente por minha conta. Diga-se de passagem que não é a altura ideal para visitar esta zona “especial” da ilha. O sol de Agosto, digamos que, faz desaparecer muitas das manifestações de vida naquelas paragens. Certamente motivos de interesse não iriam faltar. Temos de sempre olhar bem. Há sempre algo que passa despercebido.Depois de estacionado o carro, foi tempo de montar a mochila e seguir vereda adentro


A vereda é fácil de encontrar. Para quem tem acompanhado os meus percursos anteriores, ao ver as fotos desta paisagem, dirá certamente que não se trata da mesma Ilha, do mesmo lugar, tal a diferença da paisagem encontrada relativamente ao que anteriormente tenho mostrado.
Trata-se duma zona importante do Parque Natural da Madeira desde 1982, com valor a nível geológico e a nível da fauna. Mais uns dos sítios integrados na Rede Natura 2000. Tem uma casa que serve de posto para os vigilantes da Natureza. A chamada Casa do Sardinha. Diz-se que outrora pertenceu a alguém abastado do Funchal. Não cheguei a verificar tal história.




Cerca de dez minutos depois de ter iniciado o percurso, fazendo um desvio á esquerda, temos a oportunidade de ver o contraste entre a crispação do mar do norte da Ilha comparativamente ao Sul. A norte o mar normalmente maldisposto maltrata e de que maneira as encostas para aí viradas. A sul o mar continua com um azul-turquesa, calmo e sereno. Saltam-nos á vista uns pequenos ilhéus maltratados pelo mar durante anos. A cor das formações rochosas em declínio fazem-nos parar para, daí mesmo, dessa posição privilegiada, apreciar com calma toda a sua textura. Um quadro digno de se ver.



Continuando caminho, algo disperso entre as rochas, notamos que algumas espécies continuam a sua difícil vida entre as mesmas brechas de rocha. Aproveitando alguma sombra que as mesmas lhes proporcionam durante alguns momentos do dia, estas pequenas plantas sobrevivem ao sol abrasador do mês de Agosto. Fascinante o poder da mãe natureza na capacidade de adaptação aos mais variados microclimas da nossa Ilha.
O sol continuava abrasador. O Porto da Cruz, lá ao fundo descansa junto ao mar. Para a nossa direita, as Ilhas Desertas em silhueta. Bem á nossa beira mais umas formações rochosas com texturas e cores magnificas.


A dada altura, viramo-nos para trás e verificamos que só Santa Cruz sobressai na paisagem. Machico e o Caniçal, desaparecem momentaneamente.
As onze horas atingimos a zona chamada de Estreitinho. Uma faixa de cerca de cem metros que divide a costa norte da costa sul. A zona encontra-se protegida por um varandim. Em dias ventosos deve de facto ser algo difícil atravessar este troço final, antes mesmo de chegarmos á zona do pequeno cais. Neste mesmo sitio e a meio da dita travessia, temos a noção perfeita da diferença entre o mar da costa norte e costa sul.




Ao chegarmos á zona onde existe um pequeno espaço para descanso e merendas, resolvemos descer até ao pequeno cais banhado por águas límpidas que convidam a um refrescante banho. O silêncio no entanto é quebrado por umas famílias que transformam momentaneamente este santuário, num qualquer parque de diversões duma qualquer cidade turística. É pena que nem toda a gente se capacite que o estar “á vontade” em locais quase desertos não significa transforma-lo na sua “quinta” onde tudo é permitido.
Seguimos caminho agora até á Casa do Sardinha. Um pequeno trilho de pedra calçada leva-nos tranquilamente até lá.
Daqui a visão sobre o Caniçal, Machico e Santa Cruz é soberba. Resolvo ir até ao farnel á sombra de uma palmeira. As lagartixas não me dão muito descanso, por isso há que continuar. Subo então até ao promontório de onde se avista o Ilhéu da Cevada ou do Desembarcadouro. Mais ao fundo o Ilhéu do Farol.


A vista é soberba. A subida é tão bela como difícil. Há que subir pelo melhor caminho. Nem sempre sabemos qual. Temos aí a oportunidade de descansar um pouco. A altitude faz-me bem. Sinto-me definitivamente bem em locais altos.
A aproveito e troco algumas impressões com alguns turistas franceses. A ilha neste verão encheu-se deles. São franceses por todo o lado. É estranho no entanto vê-los em tão bom numero pelos quatro cantos da Ilha. Estranho por não ser muito normal. Há muito que nos habituamos á facilidade de encontrar-mos gentes de outras partes do globo. Mudanças dos tempos. Mudanças nas vontades. O que continua a ser bom é encontrar gentes desse mundo fora a desfrutar das nossas belezas ímpares. Trocar opiniões com essas mesmas gentes torna-se para mim um hábito.
É bom de facto falar da nossa terra a quem nos visita. É bom falar com pessoas que conhecem já minimamente a nossa terra. Com muita surpresa minha é com um desses franceses que me mantenho algum tempo á conversa. Muito surpreendente mesmo!
Trocamos ângulos, poses e planos fotográficos sobre o cenário majestoso que estava mesmo ali, aos nossos pés!




Depois desta breve troca de conhecimentos, foi tempo de fazer o caminho de volta. Circundei a Casa para vir de encontro de novo á vereda que me traria de volta á Baia de Abra. O caminho de volta faz-se muito mais depressa. Pelo calor também.
Cheguei ao carro era uma hora da tarde.
Era tempo de recolher novamente os “veraneantes” que tinham preferido as mornas aguas de praia de Machico.
Foi um passeio curto. Duma beleza rara. Que no entanto não podia deixar de partilhar convosco. Vós que fazem o favor de me acompanhar caminhada após caminhada.
Sempre por aí, numa qualquer vereda, num qualquer caminho desta terra surpreendente, encontrar-nos-emos!
Um abraço e até á proxima!

domingo, 11 de outubro de 2009

Eira da Achada – Fanal - Levada dos Cedros - Curral Falso - Eira da Achada -16-08-2009

" A FLORESTA ENCANTADA"
Sábado 15 Agosto de 2009
Meus amigos, esta caminhada deveria chamar-se: Passeio na Floresta Encantada. Não há nada, mesmo nada, que eu abaixo possa escrever, que consiga transmitir tamanha beleza. Tentarei, como sempre tenho tentado, dando o meu melhor. Que tantas vezes sabe a pouco!
A terminar as minhas férias e aproveitando o dia santo, eu e o J. aproveitamos para mais um dos “seus” percursos. Haviam já alguns dias que me vinha falando nisso. Dum sítio magnífico. Com umas árvores (tis) centenárias magníficas, junto ás quais nos sentíamo-nos literalmente, pequeninos.
Saímos do Funchal eram já sete horas e quarenta e cinco minutos. Em direcção a S. Vicente. Paramos na famosa padaria, tão falada por outros caminheiros amigos nossos, pelo seu pão de “rosquilha”. Tomamos café. O dia estava algo sombrio. Tinha-me deitado um pouco mais tarde porque na véspera tinha ido visitar o famoso Arraial do Monte. A disposição, essa, estava no auge. Um passeio com o J. significa cumplicidade, boa conversa, tempo para parar onde de facto é preciso. Tempo para as fotografias (não me livrando das bocas do costume sobre o tempo extra necessário). Enfim os condimentos perfeitos para uma caminhada perfeita.
O Porto Moniz lá ao fundo visto de S. Vicente estava envolto numa bruma. Metemo-nos no carro e lá fomos. Em direcção á Ribeira da Janela. Passamos pela Igreja. Logo acima onde estão agora nuns arranjos “urbanísticos”, mais propriamente um miradouro, numa das zonas mais bonitas da Costa Norte da Ilha a Eira da Achada, estacionamos o carro. Era aí que começaria o nosso passeio. Eram oito horas e cinquenta minutos. Preparamos o impermeável. Era quase certo que iríamos apanhar chuva.

Viramos para o caminho Ribeiro Escuro, até encontrarmos a Vereda da Tranquada, que salvo erro é a vereda que sobe desde a Ribeira Funda em direcção à Eira da Achada e ao Fanal. Foi fácil.
Cerca de vinte minutos depois de termos percorrido esta mesma vereda damos de caras com o seu “fim de percurso”. Então e tempo de flectir á direita e começar a subir a vereda que vem da Ribeira Funda em direcção ao Fanal. Uma subida íngreme. Uma subida ao Paraíso. Faz-nos transpirar em catadupa.


Á medida que subimos, pela zona do Castanheiro, o nevoeiro começa ligeiramente a fazer-nos companhia.
Começamos a maravilhar-nos com a floresta que vamos encontrando. Digo-vos que subir esta vereda é penetrarmos nas entranhas de um dos núcleos importantes da Floresta Laurissilva. Os reis desta floresta , os Tis e os Loureiros centenários, envolvidos pelo nevoeiro, trazem-nos á nossa memoria os mais variados contos sobre a Floresta Encantada. Um cenário perfeito para um desses contos. Perdi-me com a máquina fotográfica. O J. pacientemente lá esperava sentado. Eu francamente não sabia para que lado me havia de virar. Os pontos de interesse eram imensos. O nevoeiro pintava e transformava o mesmo cenário, em breves momentos, das mais diversas cores e formas. Havia que captar tudo. Á volta dos velhos tis deixamo-nos ficar por largos momentos em silêncio. Não era de facto preciso mais nada. O nevoeiro carregava ainda de mais silêncio todo o espaço á nossa volta. Estávamos em pleno paraíso encantado. Não meus amigos, não exagero. Era tudo real. Um dos sítios mais bonitos encontrados por mim nas minhas caminhadas. Só sentindo. A magia daquele sítio é de facto inexplicável. O J. tinha de facto razão.
Depois do espírito alimentado, foi tempo de alimentar o corpo. Depois, foi continuar caminho. Com muita pena nossa. O nevoeiro continuava a fazer-nos companhia cada vez com mais intensidade. Silenciosamente.






Cerca de uma hora e vinte depois de termos atingido a “Floresta Encantada” atingimos a zona do Fanal circundante da Casa Florestal.
Estávamos na esperança de encontrar alguns dos Amigos que iriam acampar nesta zona. Era o fim de semana do “acampamento do grupo” . Iriam subir desde o Chão da Ribeira pela Vereda da Cavaca. Quando chegamos o local ainda estava deserto. Não havia lá ninguém. Descansamos um pouco. De repente, ouvimos algumas vozes. Era o amigo M. e a respectiva esposa que vinham assim “preparar e guardar” o lugar para o resto dos Amigos que, mais hora menos hora haveriam de ali chegar. Ficaram contentes de nos ver .E nós a eles. O M. não perdeu a oportunidade de nos dar a provar um dos seus petiscos já preparados. Conversamos um pouco, rimos a bom rir e fizemos as despedidas. A nossa caminhada tinha de continuar. Agora de encontro á Levada dos Cedros. Sendo assim, ao sairmos da zona da Casa Florestal derivamos para a nossa esquerda. Na estrada Regional 209, na direcção do Paul, seguimos uns metros á frente até encontrar-nos a vereda que nos levará á Levada dos Cedros e depois ao Curral Falso.





Começamos assim a descer. Num percurso lindíssimo, muito bem arranjado. Com degraus aos zig-zag que em dias de chuva não devem ser lá muito agradáveis de descer. A não ser que já tenham inventado botas com ABS. As minhas infelizmente não têm essas “modernidades” mas “agarram-se” bem. Isto é, quase sempre.
Começamos assim a descer esta vereda eram onze horas e quarenta e sete minutos.
Tis (Ocotea foetens) , Folhados (Clethra arborea) , Loureiros (Laurus azorica), Vinhaticos (Persea indica), Uveiras da Serra (Vaccinium padifolium) são apenas algumas das espécies endémicas que encontramos nesta linda descida. A velha Levada dos Cedros, a mais antiga obra de hidráulica chegada até aos nossos dias, já desactivada, lança-nos um olhar de saudade. Abandonada, a velha levada que nasce no Lombo dos Cedros a cerca de 1000 metros de altitude, faz-nos parar por breves instantes. Trata-se duma levada datada do século 17 que irrigava os terrenos agrícolas da freguesia da Ribeira da Janela. Dez minutos depois de termos iniciado a descida deparamo-nos com uma simpática ponte de madeira. Eram doze e dez minutos quando atingimos a Levada Nova dos Cedros ou agora, como somente é chamada, Levada dos Cedros, que corre paralela a antiga levada mas a 200 metros numa cota mais baixa. É neste ponto que a vereda se encontra com a levada. São vinte minutos de descida de puro deleite.


Agora na levada viramos a esquerda, contra a corrente da água. É tempo e visitar a nascente da levada. Passamos pela Ribeira do Corgo, onde a Levada dos Cedros recebe a sua primeira água. Subindo um pouco ribeira acima deparamos com outro cenário do “outro mundo” . Meus amigos, mais um sítio em que não encontro palavras suficientes para descrever tamanha beleza. Simplesmente maravilhoso. Uma queda de água lindíssima. A água escorre por tudo quanto é sítio alegremente, escondendo-se entre as pedras, reaparecendo aqui e ali por entre o musgo dum verde estonteante. É simplesmente um local que “não existe”. Lindo!
Depois de “inspiráramos” toda a paz e a”alimento” daquele lugar, tínhamos de voltar á esplanada da Levada dos Cedros. Um longo caminho ainda nos esperava até ao Curral Falso. Diga-se de passagem que a placa informativa do percurso diz-nos que do Fanal até ao Curral Falso são 5,4 km. O podómetro do J. Indicou 7,1Km.





Eram doze horas e vinte e cinco minutos quando começamos a percorrer a referida Levada, desde a sua nascente, que corre alegremente pela margem direita da Ribeira Janela. Nós, seguimos com ela. Ao sabor da água. Percorrendo cada contorno.
A dada altura a chuva que nos “ameaçava” desde o início do percurso, parecia que ia finalmente fazer-nos companhia. Mas felizmente não passou de uma ameaça. Continuamos caminho. Por vários momentos temos a sensação que anoitece repentinamente tal é a densidade florestal desta zona envolvente da Levada. Os Folhados em flor, tingem a paisagem com um branco ligeiramente rosado. A esplanada da Levada, cobre-se com as suas flores caídas, misturadas com a folhagem.
Chegamos ao Curral Falso eram treze horas e quarenta minutos.


Seguimos em frente. Pela Vereda da Ribeira da Janela. Acompanhando a levada que aqui mantém a traça centenária, escavada simplesmente na rocha. São mais cerca de 2,7 km de vereda sempre a descer.
Eram catorze horas e quarenta minutos quando atingimos o Caminho da Terra da Fonte. A velha tradição das pessoas enfeitarem os seus quintais e jardins com plantas com flores bem garridas mantêm-se por estas bandas. É um prazer olhar para estes pequenos “festivais de côr”!
Atingimos assim o local onde deixamos o carro, a Achada da Eira faltavam dez minutos para as quinze horas.
Seis horas caminhada por locais indescritíveis por palavras. O espírito estava repleto.
Dirigimo-nos ao Funchal. Calmamente. Não sem antes fazermos um desvio até á Encumeada. Pela velha subida do Rosário, passando pelo Chão dos Louros. Para a cerveja do costume, servida pela empregada do costume.
Nós, meus amigos, mesmo sem qualquer “engenho e arte” continuaremos por aqui. Tentando transmitir emoções. Por estes caminhos e lugares desta terra abençoada. Encontramo-nos por aí, num qualquer caminho, numa qualquer vereda.
Um abraço e até á próxima.