quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Poiso - Pico do Areeiro - Pico Ruivo - Lombo Grande - Curral das Freiras - 28-11-2009

Sábado, 28 de Novembro 2009
Ultima caminhada deste ano.
Dia de um Sporting – Benfica. Perguntarão os meus amigos o que é que um jogo de futebol tem a ver com um blog de caminhadas. Pois é. Além das caminhadas, gosto muito de futebol. Do S.L. Benfica em especial. Muito em especial.
Para este dia estava programado pelos Amigos da Natureza um passeio com pernoita na casa de abrigo do Pico Ruivo. Havia muito tempo que tinha a intenção de experimentar esta caminhada “ a dois tempos”. A coincidência do calendário com este importante jogo do Glorioso, fez-me assim mudar de ideias. Por esta e por outra razão também. Que agora já não importa.
A verdade é que eu o J. já tínhamos combinado previamente fazer somente a primeira parte do passeio. Acompanharíamos assim os Amigos desde o Poiso até ao Pico Ruivo. Depois, seguiríamos caminho pelo Lombo Grande até ao Curral das Freiras, de onde regressaríamos ao Funchal de autocarro. Assim foi.
Saímos do Funchal no autocarro da carreira para o Arco de São Jorge, eram sete horas e trinta e cinco minutos.
Muitos caminheiros á partida para este primeiro dia de caminhada. Quase que completaram todos os lugares disponíveis no autocarro. Seguimos assim de encontro ao sítio do Poiso.
Começamos assim a andar verdadeiramente eram nove horas da manhã. O dia estava bom. Com sol, embora as nuvens já ameaçassem quando ao longe, olhávamos para o Pico do Areeiro.
Começamos a subir. Uma subida fácil. Com boas vistas. Alguns troços a terem de ser percorridos no asfalto contra a minha vontade. De vez em quando lá “cortamos” caminho por alguns troços de vereda. Interessante foi passar pelo Centro de Educação Ambiental do Cabeço da Lenha. Este centro que engloba um terreno de cerca de 53 500 metros quadrados, foi adquirido ao Dr. Rui Silva conhecido médico e benfeitor, defensor do património natural da cordilheira central da Ilha da Madeira. Possui uma pequena casa/cabana que foi construída originalmente em 1967. De salientar o enorme trabalho desenvolvido neste espaço pela recuperação do coberto florestal endémico desta área. Hoje em dia já é possível verificar junto ao Pico do Areeiro o fruto deste árduo trabalho iniciado em 2001. De salientar que todo este trabalho é desenvolvido por voluntários. O verde de volta a este magnifico Pico!



Chegámos assim ao Pico do Areeiro eram cerca das dez horas. Foi assim tempo de tomar um revigorante café, tomado nos “pré-fabricados”, substitutos da antiga e saudosa estalagem do Pico do Areeiro, agora em ruínas.
Mais umas conversas e algumas trocas de ideias e foi agora tempo de vestir o impermeável para enfrentar o tempo que nos esperava lá fora, a caminho do Pico Ruivo. O nevoeiro era intenso. A chuva ameaçava ser valente.
Começamos assim a caminhar na velha vereda do Pico do Areeiro - Pico Ruivo, ou seja do segundo Pico mais alto da Madeira para o Pico mais alto da Madeira. Iríamos assim dos 1818 metros do Pico do Areeiro para os 1862 do Pico Ruivo! Á primeira pode parecer um desnível “pequeno”. Quem conhece o trilho sabe bem que não é bem assim.
Agora já devidamente “apetrechados” pusemo-nos a caminho da Vereda do Pico Areeiro – Pico Ruivo.





O trilho desta vereda já foi descrito num post anterior quando em 4 de Agosto fiz esta travessia. Na altura, se bem se lembram, com muito sol por companhia. Desta feita, seria literalmente “á chuva” sendo “muito bem coadjuvado” pelo nosso amigo nevoeiro.
Miradouro do Ninho da Manta, a descida para o Pico do Gato. Sempre com a chuva e nevoeiro por nossa companhia. A boa disposição, dadas as circunstancias era boa.
Fizemos o caminho pelo percurso mais curto. Pelos túneis. A subida pelas Torres não acrescentaria nada de novo a esta caminhada pelas condições climatéricas.
Levaríamos assim cerca de uma hora e meia para fazermos este percurso. Digamos que este trilho feito com nevoeiro, não provoca , a quem tem medo das alturas, vertigens. O que a meu ver, perde muito da sua adrenalina. Eu, como conheço o trilho com tempo limpo, era tempo de “aprecia-lo” de outra forma.
Pelo caminho, até ao Pico Ruivo, houve tempo ainda de recolher alguma lenha, que serviria para manter a lareira acesa, para quem iria ficar a pernoitar na casa de abrigo do Pico Ruivo.


Eu, o J. e um outro amigo, não perdemos muito tempo nesta casa de abrigo. Depois umas breves trocas de roupa, uma ida ao farnel, tomamos a vereda do Pico Ruivo – Encumeada.
O tempo tinha-se alterado substancialmente. Havia vento, chuva e nevoeiro. Seria assim até ao Curral das Freiras.
Eram onze e quarenta quando arrancamos. Uma hora depois chegamos á bifurcação onde viramos á esquerda de encontro ao Curral das Freiras pelo Lombo Grande. Mais uma hora de descida e atingiríamos a Vereda da Fajã Capitão na Fajã dos Cardos.

Estávamos encharcados. Paramos num bar junto á paragem do autocarro que nos traria de volta ao Funchal. Mudamos mais umas peças de roupa e enquanto esperávamos pelo autocarro, conversamos. Conversamos muito. Numa alegre e franca cavaqueira.
Depois das peripécias do condutor do autocarro a caminho do Funchal, devo dizer que chegamos sãos e salvos.
Como que aliviados das peripécias do transporte para a cidade, continuamos o convívio no Funchal. Era o meu último passeio deste ano. Havia que aproveitar.
Meus amigos, foi mais uma caminhada.
Em excelente companhia. Em condições não muito favoráveis. Estarei cá para continuar.
Abraço, até uma próxima caminhada na minha terra.

(PS: as poucas fotos deste passeio devem-se ás condições meterologicas - não há maquina fotografica que resista a tanta água!)

Cruzinhas (Faial) - Cova da Roda - Achada do Marques - Ilha - 15-11-2009

É meus amigos. Quase um ano de caminhadas.
Novas experiências, sensações novas, olhares novos, amigos novos. Enfim, olho para trás e vejo uma única caminhada. Que me trouxe até aqui. Por vários caminhos. Junto daqueles que me acompanham dia a dia por aqui. Do outro lado do mar ou aqui mesmo do meu lado. Eles sabem quem são. A todos eles agradeço. Também com eles, caminho.
O dia estava bom. Um domingo, digamos, com um “tempo domingueiro”. Óptimo para conviver. Óptimo para caminhar. Nada melhor que a companhia dos Amigos da Natureza para tal desiderato.
Às sete e quarenta e cinco lá caminhamos de encontro ao nosso local de partida para a nossa caminhada de hoje. Seria nas Cruzinhas no Faial que começaria a nossa caminhada.
Previamente paramos no local do costume quando as caminhadas são para aquelas bandas, ou seja, Machico. Tal como na Ribeira Brava, existe também já aqui nesta cidade, um café habitual. Foi lá mais uma vez que saboreamos o café matinal.
As dez e meia estávamos então nas Cruzinhas, para iniciar a nossa caminhada.




Depois de passarmos a Ribeira Seca do Faial, Fajã da Murta, Lombo Galego, sempre a subir. A boa disposição reinava.
As vistas sobre a Penha de Águia são soberbas. Os planos para boas fotografias são imensos. Difícil é escolher.
Não me canso de elogiar os elementos mais velhos deste grupo. Uma energia infindável, uma disposição sem limites. Estarei eu algum dia á altura desta gente?


A primeira paragem faz-se no sítio chamado Cova da Roda. Um cruzamento de caminhos. Do que vem do Pico das Pedras, do que vai para Santana e para a Ilha, e, donde vínhamos, precisamente das Cruzinhas no Faial. Um sítio magnífico para um belo descanso. Uma ida ao farnel e tempo ainda para algumas anedotas e consequentes risadas. Bom tempo empregue neste curto descanso. Continuamos agora caminho. Agora para a Levada do Meio ou de Santana.
Eram doze horas quando iniciamos este caminho. Pela Feiteira do Nuno, Estrada do Pico das Pedras a qual cruzamos eram treze horas. O caminho e o tempo fluíam como as conversas. Impressionante.

Depois de passarmos a estrada de acesso às Queimadas, um pouco depois, resolvemos nós e a maior parte do grupo descer um caminho florestal que nos levaria á Achada do Marques e posteriormente á freguesia da Ilha. Eram duas horas quando iniciamos esta descida. Houve quem continuasse. Nós, pelo cansaço do dia anterior não continuaríamos. Levaríamos quarenta minutos a fazer esta descida até á estrada que liga Santana á Achada do Marques. Daí até á Freguesia da Ilha foi um pulo. Pelo caminho ainda tivemos a oportunidade de apreciar algumas flores que davam um encanto especial a este caminho. A nossa terra é mesmo a Ilha das flores. Elas estão de facto em cada canto!


Tivemos tempo ainda para, depois de mudar umas peças de roupa, confraternizarmos junto a um popular bar da freguesia, enquanto aguardávamos pelo resto da “comitiva”. Não valeria de nada. O resto da “comitiva” tinha voltado para trás porque o trilho escolhido revelou-se demasiadamente “escondido” para levar a “bom porto” o resto da caminhada até ao ponto de encontro. Viríamos assim a recolhê-los em Santana junto às bombas de gasolina. Tiveram por companhia no final da caminhada, a nossa “amiga chuva”. Nada que assuste um bom caminheiro.
Quanto a nós concluímos que foi um passeio que valeu pela companhia e mais uma vez pelas belezas da nossa terra. Uma terra cheia de surpresas. A cada canto.
Nós continuaremos por aí. Nos caminhos solitários desta terra. Procurando “alimento” para a alma, tentando com palavras e fotografias transmitir emoções.
Abraço e até à próxima.

Paul da Serra (Pico da Urze)- Levada do Alecrim - Levada da Beira do Paul - Lugar de Baixo - 18-10-2009

Outro domingo na companhia dos Amigos da Natureza.
Iríamos desta feira desde o Paul da Serra até ao Lugar de Baixo, passando por perto do Lombo do Mouro.
A saída fez-se com muita animação e muita gente no Funchal. Em direcção ao planalto do Paul da Serra. O dia estava esplêndido!
Paramos como sempre na Ribeira Brava, para o habitual café e para a habitual cavaqueira nos dias de passeio. O snack bar é sempre o mesmo! O café sempre feito da mesma forma. Saboroso. O cheiro das sandes, enche sempre todo o bar, que se enche também de caminheiros todos os dias de passeio. A bem dizer, transformamos o pacato espaço por breves momentos, com a nossa presença e boa disposição.
Posto isto foi subir até ao Paul da Serra. Paramos assim junto ao Restaurante Estalagem no Pico da Urze. Mais um tempo para uma amena cavaqueira. Ideias sobre a forma de prolongar este passeio, começaram a surgir por um dos elementos mais experientes. Em boa hora, diga-se. Iríamos assim, desviar-nos até á levada do Alecrim que nos levaria até ao inicio da descida para o Rabaçal. O início, foi um pouco atribulado com a malfadada carqueja a dificultar-nos ao máximo o caminho, logo na saída da estrada principal. Ainda por cima, uns desvios propostos por alguns, não se revelaram mais suaves. Era ver toda a gente ao pulos, literalmente, para evitar a "agressão" desta planta. Enfim, o que importava era que estávamos a fazer aquilo que gostávamos e sendo assim, a jornada lá teria de correr-nos de feição.
Íamos assim de encontro até á levada do Alecrim. Depois da carqueja foi fácil encontrar a vereda. O pinheiro sinalizador, numa manhã magnífica, indica-nos o ponto exacto onde está a referida vereda que nos levará sempre a descer até á referida Levada.
As vistas sobre a Ribeira da Janela mostram-se magníficas. O dia continuava excelente.
Não iríamos desta feita até á madre da levada. Um local lindíssimo que poderão comprovar em posts anteriores.
Depois de a atingirmos, foi tempo de seguir a sua corrente. Numa zona onde ela baixa de nível, paramos para umas fotografias de grupo. É sempre uma zona muito bonita para as fotografias.
Depois destas, seguimos caminho. Passamos assim pela Ribeira do Alecrim eram dez horas e quarenta minutos.





Passamos depois pela pequeno Nicho de Nossa Senhora e continuamos na Levada da Beira do Paul.
Agora eram as vistas sobre a costa sul da Madeira que se mostravam soberbas. Com o mar profundo e calmo como cenário.
Continuamos caminho até cruzarmos com a estrada que desce para a Calheta , desde o Paul. Eram onze horas da manhã. Nota negativa para os condutores de umas carrinhas de transporte turístico que lavavam as respectivas carrinhas com a água da levada junto á mesma. Sem qualquer tipo de cuidado, diga-se. Os tempos “mortos” têm de facto de serem preenchidos. Não daquela forma, a meu ver.
De referir que o trilho junto á levada faz-se na maior das tranquilidades. O silencio é “rei e senhor” por estas paragens. As vistas, soberbas. De vez em quando uma vaca resolve barrar-nos o caminho. Estranho, como ainda é possível encontrar estes animais junto a estas zonas que mereciam outro tipo de protecção? Adiante, que é o caminho.


Ás onze horas e quarenta e cinco minutos chegamos ao “Cristo Rei” ou simplesmente “Nosso Senhor da Montanha. Uma zona de culto.
Aproveitamos para aliviar o farnel. Mais uma ronda pelo local, Vale sempre a pena. O espírito enche-se. assim aqui, para o que ainda resta da caminhada.
Continuamos na levada. Longa e penosamente. Havia quem já se queixasse. Atravessamos a estrada antiga que ligava a Ponta do Sol ao Paul, eram doze horas e quinze minutos. E continuamos na levada. Alegres, bem dispostos e contentes.
Cruzamos novamente o caminho de florestal que nos dá acesso ás Rabaças, eram doze e trinta.
O nevoeiro a partir daqui começou a fazer-nos companhia ocasionalmente. É uma zona sempre muito complicada a esta hora da manhã.
Continuamos caminho. Um longo caminho.
Eram treze horas e quinze minutos quando atingimos uma zona de umas grandes pedras. Um desvio feito da vereda, uns metros antes, devido a sua perigosidade, leva-nos assim a uma zona completamente diferente do que estamos habituados. Autênticos blocos de pedra, amontoados, como se fossem aí colocados, abandonados á sua sorte, dão ao local, um toque extraterrestre. Esta é mesmo uma ilha plena de surpresas. Sem sombra de dúvida alguma.
Ultrapassada esta zona, damos de caras com uma zona de uns antigos currais. Por baixo de nós, lá bem debaixo da rocha, passa o Túnel das Rabaças! Impressionante!
Vinte e cinco minutos depois, passamos sobre uma bonita ponte rústica feita em pedra. Mais umas posições para as inevitáveis fotografias.



Começamos agora a descer. E que descida haverá de ser. Uma descida directamente do planalto do Paul da Serra a cerca de 1500 metros de altitude, para o Lugar de Baixo na Ponta do Sol, junto ao mar.
A principio sem nenhuns problemas, pelo caminho florestal. Depois por outro caminho florestal mas calcetado em pedra. Como o eram todas ou quase todas as estradas da Madeira há mais de trinta anos.
Pelas catorze e quarenta , esta mesma estrada bifurca-se. Seguimos pela via da esquerda. Sempre a descer.
Ao fazer-mos este percurso, voltamos atrás no tempo. Digo eu mesmo que, só faltavam as coroas de henrique ou agapantos e as hortênsias junto ás bermas desta bonita estrada. Para completar o quadro, o velhinho carocha do meu pai e o Peugeot 404 do meu tio, estacionados a um canto. E nós, crianças a usufruir da liberdade do campo. Colhendo, ramos, algumas flores para enfeitar os velhos carros, para o regresso á cidade.







Tomamos assim o Caminho da Quinta no Sítio com este mesmo nome. Paramos junto a uma casa, a primeira por sinal. Muito bem situada e pertencente a alguém amigo de um dos nossos amigos. E, como amigo não fecha a porta a amigo, lá tivemos de entrar e provar o néctar de Baco.
Seguimos caminho. A descer, digamos, violentamente. Os joelhos começavam a dar sinais de fadiga. Havia ainda muito para descer.
Chegamos junto aos poços de água, na Estrada Nova da Lombada, eram catorze horas e cinquenta minutos. Descemos pelo caminho de betão. Pelo caminho do Jangão. Daí para o Caminho do Pico do Gago. Depois para o caminho do Lombo da Casada. Pelo caminho cruzamos com a Levada Nova.
Finalmente atingimos a Estrada de Santo António. Estávamos finalmente perto do fim desta descida alucinante. Tempo ainda para apreciar os bananais bem cuidados desta zona. Os belos cachos de banana assim o demonstram. O clima faz o resto.


Chegamos ao fim, faltavam vinte minutos para as quatro horas da tarde.
Depois de bem refrescados e de mudadas algumas peças de roupa, juntamo-nos ao convívio. Havia que esperar pelos mais atrasados. O tempo seria, também aí bem aproveitado. Muito bem aproveitado, diga-se.
Voltamos, depois de todos reunidos, ao Funchal. Ao aconchego das nossas casas. Os joelhos cansados, não deixavam passar em branco esta caminhada. Por sítios incríveis. Inimagináveis. Assim foi. Com muita satisfação.
Nós, continuaremos a caminhar por aqui.
Apesar de alguns dúvidas, sobre se, deveria ou não continuar com este “diário de bordo” como alguém uma vez lhe chamou, depois de muito reflectir, resolvi continuar. Neste “meu espaço”. Onde sem qualquer tipo de pretensão, coloco, sensações minhas, olhares meus. Relatando as minhas experiencias de caminheiro. Sozinho ou acompanhado. Por cada canto desta terra linda que é a minha. Os propositos portanto, continuam assim a ser os mesmos como quando começei.
Abraço e até á próxima caminhada.

Jardim da Serra - Levada do Norte - Eira do Mourão - Meia Légua - Ribeira Brava - 04-10-2009

Domingo, 4 de Outubro de 2009
A noite anterior tinha sido de autêntico temporal! Chovera a noite toda! Tinha posto a hipótese de não fazer a caminhada prevista para esse dia. Mas, a vontade de ver a paisagem depois das chuvas era demasiado tentadora.
Sendo assim, levantei-me á hora do costume. Em direcção ao ponto de encontro dos Amigos do costume. Quando lá cheguei, confirmaram-se os meus receios. Não havia quase ninguém para iníciar a caminhada de hoje. Seriam apenas dezoito caminheiros, os que se atreveriam a iniciar esta caminhada. Não chovia pelas sete horas e trinta minutos. A paisagem estava nítida. Os contrastes, esses estavam bem patentes. Perfeito.
O autocarro assim arrancou em direcção ao Jardim da Serra, local de início da nossa caminhada de hoje. Iríamos fazer a Levada do Norte desde o Jardim da Serra até á Ribeira Brava. Um percurso fácil, não fossem as circunstâncias.
Ao subirmos a caminho do Estreito de Câmara de Lobos a certeza de que iríamos apanhar “muita água” era cada vez mais certa!
Quando chegamos ao Estreito, a chuva a “sério” já se fazia sentir. Despedimo-nos do autocarro, vestimos os impermeáveis e pusemo-nos ao encontro da Levada do Norte.


A chuva começava a cair, calada, mas incessantemente. Toda a gente achava graça. Havia algum tempo que não tínhamos um passeio com chuva. Eram oito e vinte e cinco da manhã quando começamos realmente a andar.
Vinte minutos depois, foi tempo de atingir uma zona onde a esplanada da levada estreita-se bastante. Umas escadas á esquerda, contornam esta parte mais perigosa da levada.
Dez minutos depois passamos pela Ribeira da Caixa. Eram exactamente oito horas e cinquenta minutos. Continuamos caminho. Com a chuva cada vez mais intensa. Ouviam-se as primeiras queixas.
Passamos por uma zona onde a Levada cedeu há uns anos. Digamos que não é uma zona propriamente bonita de atravessar. Uma zona a cuidar dado que se trata duma zona residencial e nem sempre os residentes têm em conta a devida consciência do saber viver em comunhão com a Natureza.
Rapidamente atingimos a ER 229. Escusado será dizer que a chuva continuava em bom ritmo. Seria a nossa companheira inseparável!
Logo que atravessamos a referida estrada, facilmente encontramos a continuação da Levada do Norte. Momentos depois , atingimos o sítio denominado por Cruz da Caldeira. Aí encontramos um pequeno túnel. Seria, em condições normais, ocasião de ligar a lanterna. O excesso de protecção para a chuva complicava no entanto o acesso á mesma no fundo da mochila. Parece que toda a gente de repente ficara sem vontade de desmontar a “tenda” para simplesmente retirar a lanterna. Então, foi ver toda a gente, literalmente “aos apalpões” para atravessar o referido túnel. A segurar as paredes para não tombar para dentro da Levada. Convenhamos que não era lá muito boa ideia.
Logo depois atingimos a Ribeira do Escrivão na Quinta Grande. A Ribeira vinha com muita água. Foi tempo de meter a primeira dose de água dentro das botas. Não há Gorotex que resista!






Estávamos assim finalmente, na terra de origem da minha família do lado paterno. Meu falecido avô era da Quinta Grande. E que orgulho tinha o meu avô da sua terra natal! Lembro-me perfeitamente, quando era pequeno, já na casa de Santo António no Funchal, no velho terraço com vista magnífica sobre a baía do Funchal, falarmos sobre os seus tempos de juventude na Quinta Grande. Na sombra da latada do terraço, nos belos fins de tarde de Agosto, com o cheiro intenso do “americano”, ouvia-o contar as histórias intermináveis que para mim eram tão incríveis, tão fascinantes!
A Quinta Grande juntamente com o Curaçau, terra de adopção em busca de uma vida melhor, preenchiam todo o imaginário das histórias do meu avô. Eu, adorava ouvi-lo. Aqueles fins de tarde ficarão para sempre na minha memória. Por isso, sinto sempre uma nostalgia enorme quando passo nesta mesma freguesia do Concelho de Câmara de Lobos.
A propósito, diga-se que esta freguesia foi criada em 24 Julho de 1848 a partir da desagregação de alguns sítios da freguesia de Câmara de Lobos e Campanário. A origem do nome é muito diversa. Começou por chamar-se Quinta do Cabo Girão, Quinta de Manuel de Noronha, Quinta D. Maria de Ataíde, Quinta de Luís de Noronha, Quinta Fernão de Noronha, Quinta dos Padres, Quinta da Companhia, Quinta da Vera Cruz e finalmente Quinta Grande! Esta denominação, deve-se, com toda a certeza, ao facto da tamanha grandeza como propriedade.
Posto este momento de nostalgia foi tempo de continuar na Levada. Na companhia da chuva.
Sempre a cair em bom ritmo!





Devo dizer que o resto deste percurso já fora feito por mim e meu irmão em 29 de Março de 2009. Pelo menos desde o Cabo Girão até á Boa Morte, onde chegamos ás doze horas e trinta e cinco minutos. Pelo caminho já tínhamos deixado quatro desistentes. Todos eles resolveram descer em Campanário. A chuva de facto não dava tréguas. Inclusive o som de uma derrocada algures, contribuiu para estas desistências. Não podíamos parar, nem para comer.
É um percurso de levada. Sempre agradável de se fazer. Mas por vezes algo monótono.
Finalmente ao chegar á Boa Morte, houve tempo para dar um assalto ao farnel. Houve inclusive tempo para parar junto á casa de um conhecido dos Amigos. A oportunidade para uma troca de conversas e para “molhar a garganta” também surgiu. Agradecemos aqui a gentileza do nosso anfitrião.
Agora era tempo de mergulhar num troço da Levada do Norte que eu não conhecia. Desde a Boa Morte até á Eira do Mourão. A chuva finalmente parecia ter-se fartado de nos atormentar! Finalmente já não chovia!
As vistas deste troço de levada por entre os pinheiros e as acácias, sobre o Vale da Ribeira Brava são meus amigos, soberbas!


Depois das chuvas, era ver por todas as encostas, quedas de água lindíssimas! Por cada desnível haviam águas a correr alegremente encostas abaixo! Era um espectáculo que todos admiravam com evidente satisfação.
Ao atravessarmos a Ribeira Funda através da velha ponte, tivemos a oportunidade de verificar a fúria das águas que corriam lá no fundo da Ribeira. A aldeia, que a princípio nos parece fantasma, de repente ganha a sua “nota de vida” através dum ladrar dum cão num quintal duma velha casa. Momento assim de acordar duma certa letargia através dumas boas risadas!





Faltavam vinte minutos para duas horas quando chegamos á Eira do Mourão. Aqui residia a dúvida sobre que vereda descer para atingir a Ribeira Brava. Pela vereda que desce até á Fajã da Ribeira, já tinha feito este ano. Havia uma outra possibilidade. Uma outra vereda que desce até ao fim do Vale, mas de encontro á Meia Légua. Felizmente optamos por esta. Foi de facto uma descida diferente. Pelos escorregões e pela chuva que voltou a fazer-nos companhia.
As botas já não aguentavam tanta água. Os pés estavam assim doridos. A troca de meias já não surtia efeito. A descida final fez-se assim com algum sofrimento, mas com a vontade imensa de cumprir o dever até ao fim. Cumpríamos assim uma velha máxima dos caminheiros - "Não é uma simples chuva que nos impede de caminhar".



Chegamos á Meia Légua na Ribeira Brava, eram duas horas e trinta minutos. Teríamos ainda cerca de meia hora para atingir o centro da Ribeira Brava, onde estaria o transporte da carreira até ao Funchal. Houve ainda quem quisesse encurtar caminho pelo leito da Ribeira. Esta, pelo caudal já de si engrossado pelas chuvas recentes, não nos deixava margem para caminhar ao seu lado. O único remédio era caminhar pela estrada de alcatrão. Para nosso descontentamento.
Enfim, um passeio difícil, não pelo trajecto, mas pelas condições climatéricas, que não nos deixou grande margem para apreciar devidamente a beleza da paisagem.
Valeu pelas quedas de água que brotavam por todos os sítios. Pelos períodos em que a chuva não caiu e deixou a paisagem com uma nitidez ainda mais impressionante.
Há sempre motivos de interesse para quem sabe procurar realmente.
Voltamos casa satisfeitos. Era esse o sentimento geral dos caminheiros resistentes. Era o que mais importava.
Quanto a mim meus amigos, também estava satisfeito. Por mais uma caminhada cumprida. Por ter conhecido mais algumas partes de um trilho que eu não conhecia. Voltava assim contente a casa. Um passeio a reter.
Amigos, como ja sabem, encontramo-nos por aí, num qualquer dia destes. Numa vereda ou caminho desta terra.
Abraço até á próxima!