quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Jardim da Serra - Levada do Norte - Eira do Mourão - Meia Légua - Ribeira Brava - 04-10-2009

Domingo, 4 de Outubro de 2009
A noite anterior tinha sido de autêntico temporal! Chovera a noite toda! Tinha posto a hipótese de não fazer a caminhada prevista para esse dia. Mas, a vontade de ver a paisagem depois das chuvas era demasiado tentadora.
Sendo assim, levantei-me á hora do costume. Em direcção ao ponto de encontro dos Amigos do costume. Quando lá cheguei, confirmaram-se os meus receios. Não havia quase ninguém para iníciar a caminhada de hoje. Seriam apenas dezoito caminheiros, os que se atreveriam a iniciar esta caminhada. Não chovia pelas sete horas e trinta minutos. A paisagem estava nítida. Os contrastes, esses estavam bem patentes. Perfeito.
O autocarro assim arrancou em direcção ao Jardim da Serra, local de início da nossa caminhada de hoje. Iríamos fazer a Levada do Norte desde o Jardim da Serra até á Ribeira Brava. Um percurso fácil, não fossem as circunstâncias.
Ao subirmos a caminho do Estreito de Câmara de Lobos a certeza de que iríamos apanhar “muita água” era cada vez mais certa!
Quando chegamos ao Estreito, a chuva a “sério” já se fazia sentir. Despedimo-nos do autocarro, vestimos os impermeáveis e pusemo-nos ao encontro da Levada do Norte.


A chuva começava a cair, calada, mas incessantemente. Toda a gente achava graça. Havia algum tempo que não tínhamos um passeio com chuva. Eram oito e vinte e cinco da manhã quando começamos realmente a andar.
Vinte minutos depois, foi tempo de atingir uma zona onde a esplanada da levada estreita-se bastante. Umas escadas á esquerda, contornam esta parte mais perigosa da levada.
Dez minutos depois passamos pela Ribeira da Caixa. Eram exactamente oito horas e cinquenta minutos. Continuamos caminho. Com a chuva cada vez mais intensa. Ouviam-se as primeiras queixas.
Passamos por uma zona onde a Levada cedeu há uns anos. Digamos que não é uma zona propriamente bonita de atravessar. Uma zona a cuidar dado que se trata duma zona residencial e nem sempre os residentes têm em conta a devida consciência do saber viver em comunhão com a Natureza.
Rapidamente atingimos a ER 229. Escusado será dizer que a chuva continuava em bom ritmo. Seria a nossa companheira inseparável!
Logo que atravessamos a referida estrada, facilmente encontramos a continuação da Levada do Norte. Momentos depois , atingimos o sítio denominado por Cruz da Caldeira. Aí encontramos um pequeno túnel. Seria, em condições normais, ocasião de ligar a lanterna. O excesso de protecção para a chuva complicava no entanto o acesso á mesma no fundo da mochila. Parece que toda a gente de repente ficara sem vontade de desmontar a “tenda” para simplesmente retirar a lanterna. Então, foi ver toda a gente, literalmente “aos apalpões” para atravessar o referido túnel. A segurar as paredes para não tombar para dentro da Levada. Convenhamos que não era lá muito boa ideia.
Logo depois atingimos a Ribeira do Escrivão na Quinta Grande. A Ribeira vinha com muita água. Foi tempo de meter a primeira dose de água dentro das botas. Não há Gorotex que resista!






Estávamos assim finalmente, na terra de origem da minha família do lado paterno. Meu falecido avô era da Quinta Grande. E que orgulho tinha o meu avô da sua terra natal! Lembro-me perfeitamente, quando era pequeno, já na casa de Santo António no Funchal, no velho terraço com vista magnífica sobre a baía do Funchal, falarmos sobre os seus tempos de juventude na Quinta Grande. Na sombra da latada do terraço, nos belos fins de tarde de Agosto, com o cheiro intenso do “americano”, ouvia-o contar as histórias intermináveis que para mim eram tão incríveis, tão fascinantes!
A Quinta Grande juntamente com o Curaçau, terra de adopção em busca de uma vida melhor, preenchiam todo o imaginário das histórias do meu avô. Eu, adorava ouvi-lo. Aqueles fins de tarde ficarão para sempre na minha memória. Por isso, sinto sempre uma nostalgia enorme quando passo nesta mesma freguesia do Concelho de Câmara de Lobos.
A propósito, diga-se que esta freguesia foi criada em 24 Julho de 1848 a partir da desagregação de alguns sítios da freguesia de Câmara de Lobos e Campanário. A origem do nome é muito diversa. Começou por chamar-se Quinta do Cabo Girão, Quinta de Manuel de Noronha, Quinta D. Maria de Ataíde, Quinta de Luís de Noronha, Quinta Fernão de Noronha, Quinta dos Padres, Quinta da Companhia, Quinta da Vera Cruz e finalmente Quinta Grande! Esta denominação, deve-se, com toda a certeza, ao facto da tamanha grandeza como propriedade.
Posto este momento de nostalgia foi tempo de continuar na Levada. Na companhia da chuva.
Sempre a cair em bom ritmo!





Devo dizer que o resto deste percurso já fora feito por mim e meu irmão em 29 de Março de 2009. Pelo menos desde o Cabo Girão até á Boa Morte, onde chegamos ás doze horas e trinta e cinco minutos. Pelo caminho já tínhamos deixado quatro desistentes. Todos eles resolveram descer em Campanário. A chuva de facto não dava tréguas. Inclusive o som de uma derrocada algures, contribuiu para estas desistências. Não podíamos parar, nem para comer.
É um percurso de levada. Sempre agradável de se fazer. Mas por vezes algo monótono.
Finalmente ao chegar á Boa Morte, houve tempo para dar um assalto ao farnel. Houve inclusive tempo para parar junto á casa de um conhecido dos Amigos. A oportunidade para uma troca de conversas e para “molhar a garganta” também surgiu. Agradecemos aqui a gentileza do nosso anfitrião.
Agora era tempo de mergulhar num troço da Levada do Norte que eu não conhecia. Desde a Boa Morte até á Eira do Mourão. A chuva finalmente parecia ter-se fartado de nos atormentar! Finalmente já não chovia!
As vistas deste troço de levada por entre os pinheiros e as acácias, sobre o Vale da Ribeira Brava são meus amigos, soberbas!


Depois das chuvas, era ver por todas as encostas, quedas de água lindíssimas! Por cada desnível haviam águas a correr alegremente encostas abaixo! Era um espectáculo que todos admiravam com evidente satisfação.
Ao atravessarmos a Ribeira Funda através da velha ponte, tivemos a oportunidade de verificar a fúria das águas que corriam lá no fundo da Ribeira. A aldeia, que a princípio nos parece fantasma, de repente ganha a sua “nota de vida” através dum ladrar dum cão num quintal duma velha casa. Momento assim de acordar duma certa letargia através dumas boas risadas!





Faltavam vinte minutos para duas horas quando chegamos á Eira do Mourão. Aqui residia a dúvida sobre que vereda descer para atingir a Ribeira Brava. Pela vereda que desce até á Fajã da Ribeira, já tinha feito este ano. Havia uma outra possibilidade. Uma outra vereda que desce até ao fim do Vale, mas de encontro á Meia Légua. Felizmente optamos por esta. Foi de facto uma descida diferente. Pelos escorregões e pela chuva que voltou a fazer-nos companhia.
As botas já não aguentavam tanta água. Os pés estavam assim doridos. A troca de meias já não surtia efeito. A descida final fez-se assim com algum sofrimento, mas com a vontade imensa de cumprir o dever até ao fim. Cumpríamos assim uma velha máxima dos caminheiros - "Não é uma simples chuva que nos impede de caminhar".



Chegamos á Meia Légua na Ribeira Brava, eram duas horas e trinta minutos. Teríamos ainda cerca de meia hora para atingir o centro da Ribeira Brava, onde estaria o transporte da carreira até ao Funchal. Houve ainda quem quisesse encurtar caminho pelo leito da Ribeira. Esta, pelo caudal já de si engrossado pelas chuvas recentes, não nos deixava margem para caminhar ao seu lado. O único remédio era caminhar pela estrada de alcatrão. Para nosso descontentamento.
Enfim, um passeio difícil, não pelo trajecto, mas pelas condições climatéricas, que não nos deixou grande margem para apreciar devidamente a beleza da paisagem.
Valeu pelas quedas de água que brotavam por todos os sítios. Pelos períodos em que a chuva não caiu e deixou a paisagem com uma nitidez ainda mais impressionante.
Há sempre motivos de interesse para quem sabe procurar realmente.
Voltamos casa satisfeitos. Era esse o sentimento geral dos caminheiros resistentes. Era o que mais importava.
Quanto a mim meus amigos, também estava satisfeito. Por mais uma caminhada cumprida. Por ter conhecido mais algumas partes de um trilho que eu não conhecia. Voltava assim contente a casa. Um passeio a reter.
Amigos, como ja sabem, encontramo-nos por aí, num qualquer dia destes. Numa vereda ou caminho desta terra.
Abraço até á próxima!

2 comentários:

  1. Olá "Pegadas",
    Obrigado por estar seguindo o nosso blog! Seja mil vezes bem-vindo.

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  2. oi
    uma caminhada diferente sta, e corajosa da parte de vocês, que não desistiram mesmo com o mau tempo,
    adorei as quedas d'agua, como é lindo ver estas "cachoeiras" que se formam, depois das enchurradas, e como tu disseste, tudo é bom se sabemos apreciar....
    com chuva e tudo foi bom acompanhar vocês por aí...
    até a proxima caminhada amigo Ilidio.

    beijo

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