terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Fonte do Lageado ou D. Beja - Lagoa do Vento - Rabaçal - 29-12-2014

Depois de muitas coisas passadas ao longo deste ano, como sempre, reservei este dia para uma caminhada final.
Após algumas promessas de acompanhamento, verifiquei de véspera que tal não iria verificar-se.
Preparei então as minhas coisas sozinho. Como tantas outras vezes o fiz. O percurso teria de ser simples. Pela falta de companhia, pela logística e pelo tempo.
Havia muito tempo  que não visitava o Rabaçal, nomeadamente a sua parte mais alta, esta seria então a minha escolha.
Uma paragem nos Canhas, para comprar algumas coisas que comporiam o farnel para este dia e logo de seguida rumei ao Paul da Serra. O dia apresentava-se bastante soturno. Não havia chuva e isso pelo menos, era motivador.
A subida pelos Canhas está muito degradada, o que torna esta ligação, um suplício para os automóveis. É preciso evitar, pelo menos, as grandes crateras que por estes dias ali abundam.
A paisagem do Paul é sempre digna de admiração! Há algo de mágico nesta imensidão relativa. Até a estrada que se estende quase ao infinito, parece que nos convida a percorrê-la numa caminhada sem fim. Raras não foram as vezes, em que me sentei a olhar o rumo da famosa "linha branca" que nos indica o centro, sem desvios. Acaso deveria ser assim a vida?
Deixadas estas divagações sem conclusões, chegamos ao nosso ponto de inicio para o pequeno percurso de hoje, de cerca de quatro horas (existem imensos sítios para fotografar, daí o tempo excessivo para este percurso, dirão alguns).

A levada do Alecrim, apresenta-se assim, sensivelmente à mesma cota do portão/barreira de entrada à zona baixa do Rabaçal. É fácil dar com ela à sua direita. Vem cheia hoje! O ribeiro do Alecrim acaba por encher a bonita levada que desagua na câmara de carga, com direcção à Central da Calheta.
E assim iniciamos, sozinhos com a Natureza. 
Fazer estes percursos nestes dias significa tê-los só para nós. O tempo invernoso muitas vezes afasta os caminheiros de "verão" e de repente, é como se todos aqueles sítios ficassem imaculados!
Aconselho mesmo vivamente a quem já os percorreu em dias de veraneio ou bom tempo, fazê-los nesta altura, nos chamados "dias mortos" ou "dias de ninguém".

A flora não se exibe exuberantemente por aqui nesta altura, mas, aqui e ali, raramente uns Gerânio-da-Madeira -Geranium maderense e umas uveiras (Vaccinium padifolium) também conhecida popularmente como uveira-da-serra ou remania  , agora em tonalidade vermelho escuro, dão uma graça outonal a este percurso. Os tentilhões e os bis-bis, compõem a banda sonora perfeita para caminharmos calmamente. Ausentes do mundo, como convém.

Vinte minutos depois do início, a levada muda de patamar. Uma escada bem delineada leva-nos assim a um nível superior, dando no entanto, uma aura romântica a este sítio, verdadeiramente inconfundível. Quem já lá foi, saberá certamente do que falo, quem lá for, saberá identificar este sentimento na hora.
Trinta e cinco minutos depois de iniciarmos este caminho, a levada curva à direita e sobre essa curva encontra-se bem delineada, a descida para a Lagoa do Vento. Não seria esta descida a seguir para já.


O nosso primeiro destino era a Fonte do Lajeado ou D. Beja, como muito boa gente aqui na Madeira a conhece, devido a umas conotações antigas com um novela brasileira, nomeadamente pela sua protagonista que exibia os seus "dotes físicos" numa fonte algo parecida a esta.
Mais vinte minutos a partir deste ponto e damos finalmente de caras com a Fonte do Lageado.
Está bonita e deserta como convém! O sol, resolve finalmente fazer-nos companhia com todo o seu esplendor, dando assim uma luz especial a este sítio. A água corre serena ribeira abaixo deixando aqui e ali, pequenos lagos à espera de reflexos de caras e corpos que por ali já passaram. Do corropio de gente a querer reflectir a sua imagem nas águas límpidas da ribeira...



Gozados estes momentos, voltei de novo atrás, agora ao sabor da corrente da levada até que o sinal "montanhas e planícies" ( colocado de pernas para o ar numa pedra solta) junto à curva que referi há pouco, indica a descida para a Lagoa do Vento. A vereda esta limpa e em condições. Tirando uma ou outra zona mais íngreme e eventualmente mais escorregadia, faz-se na perfeição. Dez minutos de descida, trazem-nos ao encontro da vereda que vem da Lagoa do Vento e à que continua para a casa do Rabaçal. É para o lado da Lagoa do Vento que seguimos. Mais dez minutos e nas últimas curvas de acesso à lagoa, começamos a ter as primeiras visões da mesma. Neste ponto é necessário algum cuidado. O piso é íngreme e algo escorregadio, sobretudo nesta altura do ano. Além disso, a emoção de captar os primeiros clicks sobre a lagoa, podem levar a distracções desnecessárias. Não se preocupe demasiado. Ao chegar ao pé da lagoa, na sua base terá oportunidades de sobra para fotografar a mesma sem os "naturais empecilhos".



Desfrute deste sítio o mais que puder, o maior tempo que puder. Faça um lanche, deite-se contemplativamente sobre uma qualquer pedra e aproveite tudo à sua volta.
Neste momento, está na lagoa antecedente ao famoso Risco que merece também uma visita, via casa do Rabaçal. Para os mais afoitos, pode sempre espreitar do cimo do Risco para o pequeno miradouro lá em baixo no fundo. No entanto, se sofre de vertigens, não se aproxime sequer. Aproveite simplesmente o que a Natureza lhe oferece naquelas redondezas. Olhe bem, vai ver que não se desilude.





Agora, é só fazer o caminho de volta. Se preferir voltar à levada do Alecrim terá de subir até à mesma pelo caminho da vinda. Se pretende ir até à casa do Rabaçal, o caminho é sempre em frente. A vereda está boa e é fácil de fazer-se.  Da lagoa à casa do Rabaçal não deverá levar mais de trinta e cinco, quarenta minutos.
Do Rabaçal existem varias formas de sair, até de carro se o cansaço destas andanças tiver provocado mossa. No entanto, se essa não for a sua opção e tiver de recolher a viatura deixada na partida junto ao miradouro do Rabaçal, como eu, a forma mais simples é subir pelo caminho alcatroado. Levará cerca de quarenta a cinquenta minutos a fazer essa subida.



Um passeio simples. Muito bonito. Com a Lagoa do Vento como Ex-Libris do passeio.
Espero sinceramente que gostem.
Quanto a passeios, este foi mesmo o último deste ano. Aqui no Blogue e também pessoalmente.
A todos os que por aqui passam, quero desejar um Feliz Ano Novo 2015. Que seja o ano das vossas melhores vivências. Se puderem ter a Natureza por companhia, não hesitem. Ela nunca desilude. Nunca!
Um Abraço a todos! 

5 comentários:

  1. Obrigada pelas suas palavras e os parabéns. A sua ilha é muita bonita e eu éstou ansiosa pelas férias quando eu vou voltar para caminhar com minha família.
    Desculpe meu portugues, eu estudo a sua língua (porque eu gosto muito de Madeira) e pratico escrever, más eu entendo seus textos :)
    Muito obrigada por partilhar seus pensamentos e suas fotografias.
    Brigitte (Austria)

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    1. Eu é que agradeço-lhe passar por aqui. Muito obrigado.
      Quem sabe se não nos encontraremos no futuro numa destas veredas?
      Cumprimentos

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  2. Muito obrigado pelo seu blogue e pela forma brilhante como expõem estas caminhadas extraordinárias. É sem dívida um excelente guia para pessoas que, como eu, adoram explorar estes recantos da nossa ilha, mas que nem sempre encontram informação útil à caminhada, como indiscutivelmente aqui é possível encontrar. Muitíssimo obrigado uma vez mais.
    Pedro Dias

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    1. Eu é que agradeço caro amigo a sua visita! Muito Obrigado!

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