quarta-feira, 13 de maio de 2009

Vereda do Paço – Calhau da Lapa – Vereda da Vigia - 01-05-2009

Sexta-feira, 1º de Maio dia do Trabalhador. Portanto, também meu.
Levantei-me cedo. Um princípio de otite, afastou-me do passeio programado. Resolvi então ir ao encontro de algo mais fácil. Tinha na minha agenda a descida ao Calhau da Lapa por um destes dias em que o tempo disponível fosse menor. Seria então hoje o dia.
Sendo assim deixei o carro junto á Escola Básica Cónego João Jacinto Gonçalves de Andrade. Depois foi só andar mais uns metros á frente até encontrar a Vereda do Paço, que infelizmente não está devidamente assinalada.

Uma primeira parte do percurso faz-se numa agradável e suave descida paralelamente á Ribeira da Lapa. Alguns detritos no entanto mancham o leito da referida Ribeira. Esperemos que tudo seja devidamente limpo, até porque se prevê, e muito bem, aproveitar as duas cascatas da Ribeira da Lapa para a prática do canyoning. É, meus amigos. Existem cascatas naquela zona. E bem bonitas por sinal.
Depois é tempo de descer a parte mais íngreme da Vereda do Paço. Uma escadaria leva-nos como que de encontro ao mar! É linda e atrevida esta descida! Cerca de vinte minutos depois, estamos finalmente no magnífico Calhau da Lapa. Eram cerca das dez horas quando cheguei lá abaixo ao calhau. Uma criança brincava á bola sem camisa em frente ao pequeno bar-restaurante existente nesta localidade. Mais junto ao calhau, três outras aproveitavam a maré baixa para a apanha da lapa. Um adulto junto á porta de uma das quarenta e duas grutas existentes, preparava o petisco para o almoço, com a panela a tiracolo
.




As grutas, outrora utilizadas para guardar ao apetrechos relacionados com a pesca bem como armazém dos produtos que aí chegavam e partiam, servem, hoje em dia para isso mesmo e outras como “casa de praia” de algumas pessoas.
Uma paz imensa. Nem as crianças faziam barulho. Só as ondas do mar. E estava manso o gigante. Um pouco mais de atrevimento e far-se-ia a travessia apeada até á famosa Fajâ dos Padres. Fica para uma próxima. Agora, era a vez de descobrir o cais do calhau da Lapa. Outrora de grande importância, votado quase ao abandono, hoje, mantém somente uma parte do pontão que tinha sido inaugurado em 2004. A outra parte desapareceu num temporal há cerca de dois anos. Pensamos que a sua regeneração, será o ponto fulcral para o desenvolvimento deste pequeno núcleo. A ver vamos.





Quando estava no pontão, “ meti” conversa com um homem que pescava pacientemente sentado. Perguntei-lhe pelo estado da Vereda da Vigia (ou do Calhau). Disse-me com prontidão que estava, em relativo bom estado, porque até tinha sido por ali que tinha descido logo pela manhã. Continuou conversa, para dizer-me que encontrou esta vereda quarenta anos depois no dia de hoje. É meus amigos. Aquele homem há cerca de 40 anos não visitava a Madeira e o Calhau da sua meninice. Disse-me inclusive que para fugir á escola, no seu tempo, ele e mais uns amigos passavam o dia inteiro no calhau, voltando só á noite para suas casas. Revelou-se ainda com uma boa memória de toda aquela zona, confirmada pela senhora do Bar que confirmou prontamente a descrição do seu vizinho emigrante.
Confirmou-me o Sr. Alexandre (era assim que se chamava) que, inclusive, havia uma terceira vereda pelo meio da escarpa do calhau, com inicio junto á foz da Ribeira, logo a seguir á pequena ponte para o lado da Vereda da Vigia. Pude verificar alguns vestígios da mesma, mas grande parte desaparecida por entre a vegetação e algumas derrocadas. Via-se um brilho especial nos olhos de este homem ao falar daquele sítio na sua meninice. A alegria de ali voltar tanto tempo depois também era patente. Tivesse eu mais tempo e contar-me-ia histórias fabulosas da Madeira naquela zona nos anos setenta. As dificuldades, as razões da sua emigração, juntamente com o pai. Enfim. Muito teria para contar este homem conhecedor já de muitos “mares”.
Finda a conversa, era tempo subir a Vereda da Vigia. É de facto mais “suave”, mas também encontra-se de igual modo muito maltratada. Varandins destruídos, calcetamento que em alguns locais desaparece. A merecer também um olhar atento por parte de quem de direito. Encontrei inclusive restos de móveis velhos semi-consumidos pelo fogo junto á berma da vereda, na parte final junto á Estrada da Amoreira. Uma pena. Uma subida com vistas soberbas de paisagem, nomeadamente sobre o ilhéu que deu o nome á freguesia, deveria merecer outro tipo de atenção.
Depois, foi só ir buscar o carro ao inicio da outra vereda e rumar a casa.
Um passeio simples mesmo “á nossa mão” num local certamente muito desconhecido para muita gente.Um abraço e até á próxima caminhada na minha terra, num qualquer caminho, num qualquer lugar desta terra!

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